Quando ocupou o cargo de ministro da Justiça no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, em 2002, o jurista Miguel Reale Júnior assistiu dentro do governo a campanha vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que venceu José Serra (PSDB) na disputa presidencial daquele ano.
Vinte anos depois, o agora ex-tucano (Reale deixou o PSDB em 2017) continua sendo crítico ao PT e apoia a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) ao Palácio do Planalto, mas, desde 2018, passou a concentrar sua militância em mapear e esmiuçar de forma técnica e contundente as ações do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Essa é a linha que conduz o livro Bolsonárias, uma coletânea dos 46 artigos que o jurista publicou no Estadão entre maio de 2018 e maio de 2022 e que será lançada nesta quinta-feira, 30. “Foi o PT que elegeu Bolsonaro. Agora é possível que Bolsonaro eleja o PT” , disse o ex-ministro.
Após revelar que votou nulo no segundo turno presidencial em 2018, Reale Júnior prefere não especular sobre um eventual segundo turno novamente polarizado: “Não sei ainda em quem votaria se a Simone não for para o segundo turno. Hoje sou Simone. No Lula pode ser, mas no Bolsonaro não”.
Ainda sobre as eleições, o ex-ministro avalia que Ciro Gomes (PDT) não deve avançar nas pesquisas de intenção de voto além dos índices que já conquistou até aqui, e aposta que o ex-governador Geraldo Alckmin vai facilitar a aproximação dos tucanos com Lula.
O livro de Reale oferece um amplo espectro crítico da gestão Bolsonaro em temas como democracia, fake news e as relações entre os Poderes, mas também apresenta um panorama das tentativas de se construir pontes seguras na chamada terceira via, um movimento que começou unindo diversos partidos mas que acabou se diluindo.
Após assinar o pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2015, Reale elaborou um dos muitos pedidos de impeachment protocolados contra Jair Bolsonaro. O jurista não se arrepende da iniciativa contra a petista, que, segundo ele, levou o País a uma recessão gravíssima. Já a atuação do atual mandatário ele define como “desumanidade”.
Sobre o noticiário recente, Reale lembrou que, quando ocupava a pasta da Justiça, mantinha uma relação republicana e institucional com a Polícia Federal. “O ministro da Justiça não deve estar a par das investigações da Polícia Federal. Não deve intervir”, afirmou o jurista.
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